25.7.10

Julgamentos à Parte


Todos nós julgamos e isso não há como negar. Praticamente nascemos com o dedo em riste para o doutor.

Os contos, desde muito cedo, já nos situavam sobre quem era bonzinho e quem era malvado. Ninguém nunca nos explicou, por exemplo, que o lobo mal só é cruel e articulador daquele jeito, porque precisa se alimentar, tal qual os 'bonzinhos'. Ele não destrói a casa dos porquinhos, nem se veste de vovozinha para se dar bem no sexo ou fugir de uma dívida. Ele é um predador e age de acordo com o que se espera. Só muito depois, a biologia nos revela isso, mas tarde demais: já botamos o lobo pra correr faz tempo. Aos defensores dos mais fracos, recomenda-se cuidado. Tem muita presa covarde à solta.

A princípio, o nosso julgamento parte muito disso mesmo. Do óbvio, do visual, do palpável: se fulano parece meio triste, solitário... ou foi traído ou não tem alguém. Se chega no trabalho com aquela cara de ontem... festejou a noite inteira! Se chega em casa tarde... estava aprontando alguma. Se fica sentado de pernas abertas (ou cruzadas)... está sugerindo sexo. Se fala pouco... falta conteúdo. Se acorda tarde... é desocupado.

Olhando mais a fundo, percebemos que: muitas vezes estar sozinho é uma opção (e das boas!), que a felicidade nessa vida não depende do outro, que acontece de cara de sono ser resultado de noite mal dormida, de cama fria. Esquecemos que somos tantos outros em nossa própria singularidade, que às vezes falta sexo e sobra leitura na vida de pessoas muito bem-humoradas, que falta tudo por fora e que, no entanto, por dentro, estamos vibrando com poucas conquistas. Ah, e quase esqueço... incautos, não notamos que os venenos mais letais vêm das cores mais fortes e alegres.

Não sabemos nada sobre nada. Nada sobre nós mesmos, nada sobre o outro, nada sobre o dia seguinte, nada sobre a vida. Mas seguimos julgando mesmo assim. Temos os olhos atentos e a língua afiada para tudo, principalmente para o que nos salta aos olhos. O resto descarta-se. Somos catalogados por momentos.

É aí que não apenas nos perdemos em nossos julgamentos, mas perdemos também a oportunidade de conhecer grandes coisas e grandes pessoas.

11.7.10

2000

Preciso me surpreender, me sentir vivo e novo! Traduzindo: alguém pode, por favor, me trazer de volta o ano 2000? Permitam-me o saudosismo.



Em 2000, eu, como qualquer adolescente daquela (ou de qualquer outra) época, pensava que sabia absolutamente tudo sobre a vida e me surpreendia com coisa pouca. Atravessava a rua de mãos dadas com os amigos e ria de desespero se um carro chegasse muito perto. Usava roupas folgadas demais e me achava o máximo usando muita estampa. Meu cabelo crescia em ritmo frenético tal qual os meus países de baixo, quando eu estava sentado ou em pé, com o ônibus em movimento... tre-pi-dan-do.

2000 foi o começo de um novo milênio e eu estava vivo pra vê-lo acontecer. Aliás, daqui a uns 300 anos, ninguém vai poder dizer que testemunhou a passagem de um milênio para outro, não é? Pois eu estava lá: ainda na rua da casa da minha avó, comendo nozes e bebendo coca-cola, abraçado à minha mãe, observava os fogos estourando lá em cima.

Em 2000, eu comecei a valorizar a música. Foi quando comprei o meu primeiro - e até então único - cd e decorei todas as músicas. Em 2000, conheci amigos pra qualquer hora, pra qualquer lugar. ríamos sem dinheiro algum no bolso e sem obrigações no dia seguinte. eu não bebia, mas vivia embriagado de alegria. A amizade continua, mas como mudamos! Onde está a nossa disponibilidade?

Em 2000, eu ainda brincava na rua e voltava pra casa com os pés no pior estado possível. E eu tinha tantos pudores! Tanto medo de mim mesmo! Tanta vergonha de cantar, de falar... Não andava sem camisa nem sob tortura... e ainda assim, era muito feliz.

Ah, o ano 2000... Se essa história da máquina do tempo realmente der certo um dia, quero estar vivo para encabeçar a fila de compradores.